Copa na Rússia: o desafio da sustentabilidade em grandes eventos

 Em Base Legal e Normativa, Negócios e Meio Ambiente, Sustentabilidade

Em 2018, a Rússia recebe um dos maiores espetáculos do planeta, a Copa do Mundo FIFA de Futebol. Pelas dimensões e o caráter internacional do evento, o país-sede sempre realiza uma série de obras de infraestrutura para se adaptar e receber os torcedores. Desde os estádios para os jogos, até aeroportos, vias terrestres e setor hoteleiro, são reformados ou até construídos do zero.

Mas mais do que atender o conforto de atletas e turistas, uma das preocupações da FIFA tem sido garantir que essas obras e o evento sejam norteados por práticas que minimizem os impactos socioambientais. Com doze cidades sediando os jogos, confira como foi o desafio da Rússia para atender essas exigências e realizar um evento sustentável.

Padrão FIFA

A certificação green building para todos os estádios oficiais da Copa do Mundo foi uma exigência da Fifa 2018, aplicada pela primeira vez na Rússia. Os requisitos foram estabelecidos a partir de normas internacionais de engenharia e na própria legislação russa.

A principal preocupação dos organizadores era reduzir o impacto das obras de reforma e construção durante a preparação do evento, mas também garantir que os estádios mantenham seu uso futuro de maneira sustentável, como um legado positivo.

Com investimentos direcionados para a redução da emissão de gás carbônico, captação e eficiência no uso da água, e uso inteligente de energia elétrica, todos os estádios conseguiram a aprovação da FIFA. Para isso o país gastou mais de R$ 40 bilhões de reais.

Comemoração consciente

Além da arquitetura e do uso inteligente de recursos, há também a preocupação com os resíduos gerados durante o evento, que dura mais de um mês e tem ao todo 78 jogos. Cada 90 minutos jogados significa estádios lotados, Fan Fest’s e inúmeras aglomerações não oficiais. O volume de lixo dispara.

Por isso, a FIFA exige que o país-sede se empenhe para minimizar esse impacto. Na Copa das Confederações do ano passado, evento teste para o Mundial, a Rússia reciclou 87,9 toneladas de materiais como vidro, PET, alumínio, papel e papelão. A expectativa é que esse número seja bem maior ao final do evento oficial.

Sustentabilidade além do marketing

Para promover um evento com o menor impacto ambiental possível, foi construído um planejamento estratégico de sustentabilidade pela FIFA, o Comitê Local da Copa – composto pelo governo russo e União de Futebol Russa (RFU) – e os stakeholders envolvidos no evento.

O plano se apoia sobre três pilares fundamentais: o uso efetivo dos recursos naturais e da proteção ambiental, desenvolvimento social local e o crescimento econômico sustentável.

Para ir além de um mero discurso, todo o processo, desde o início das obras, foi amparado também por três padrões técnicos internacionalmente reconhecidos:

  • Sistemas de gestão para sustentabilidade de eventos (ISO 20121:2012)

Certificação de práticas sustentáveis na gestão e organização de eventos, a ISO 20121 foi lançada em 2012, tendo outro evento esportivo como base: os Jogos Olímpicos de Londres. Hoje ela contempla shows, eventos esportivos, exposições e festivais, sempre padronizando os procedimentos para minimizar impactos em âmbito social, ambiental e econômico para os públicos envolvidos.

  • Diretrizes sobre responsabilidade social (ISO 26000:2010)

Essa norma diz respeito à responsabilidade de uma organização pelos impactos de suas atividades na sociedade e no meio ambiente de modo geral, e preza pelo bem-estar de todas as partes envolvidas.

Seu principal objetivo é garantir uma conduta ética por meio da transparência nos processos, respeito aos direitos humanos e à legislação local, e o desenvolvimento das instituições sociais.

Além disso, um de seus princípios é da accountability, ou prestação de contas. Na prática, a instituição é responsável pelas consequências de suas ações e decisões na sociedade, e deve declarar os impactos identificados pela sua atividade e as medidas cabíveis para remediá-los.

  • Stakeholder Engagement Standard (AA1000SES)

A norma AA1000 surgiu em 1999 em meio a uma crescente geração de relatórios de sustentabilidade pelas empresas, como uma forma de assegurar a confiabilidade desses dados. Sua principal função é garantir a qualidade das informações apresentadas nos relatórios, por meio de mecanismos de avaliação e verificação dos dados apresentados.

 

Como já mencionamos por aqui, todo esse trabalho com os stakeholders do evento não é à toa: gestão socioambiental e econômica é uma ferramenta estratégica para o negócio, cada vez mais poderosa para as instituições. Conheça mais sobre o assunto em nosso e-book sobre Monitoramento socioeconômico como instrumento de gestão social.

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