Os resíduos no Carnaval: para onde vão?

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Boas práticas do gerenciamento de resíduos sólidos em grandes eventos

Folias à parte, o Carnaval também é tempo para pensar na gestão inteligente dos resíduos sólidos, e nas boas práticas no cuidado das cidades. O volume de lixo e a conservação das ruas é uma questão em muitas cidades brasileiras. Por isso, é necessário investir em políticas diferenciadas de gerenciamento de resíduos durante o período.

O carnaval em Belo Horizonte, por exemplo, cresceu exponencialmente nos últimos cinco anos e, no ano passado, produziu cerca de 840 toneladas de resíduos. Para 2018, de acordo com a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), o Carnaval vai envolver o trabalho de 800 profissionais e 800 contêineres serão distribuídos no trajeto dos blocos para manter a cidade limpa nos dias de festa.

Normalmente, as prefeituras reforçam a atividade dos garis e dos catadores de recicláveis, além da fiscalização em áreas estratégicas para multar foliões que depredarem o espaço. Este ano, o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) também realiza a campanha de preservação do patrimônio cultural nas redes sociais, orientando a apropriação do espaço público de forma consciente.

Gerenciamento de resíduos em outras partes do país

Surpreendentemente, a quantidade de resíduos recolhida em BH no ano passado foi maior do que a coletada no Rio de Janeiro. A Companhia Municipal de Limpeza Urbana no Rio, a Comlurb, coletou cerca de 785 toneladas de resíduos no período, com o trabalho de mais de mil garis por dia. A Comlurb também é associada a diversas cooperativas de recicláveis, que recebem parte do que é recolhido e cobrem áreas estratégicas da cidade.

Em vista desse grande volume de lixo, é importante concatenar tais ações e equipes de forma cuidadosa durante a festa. No ano passado, o Ministério Público da Bahia coordenou uma fiscalização criteriosa em Salvador durante o Carnaval, buscando cumprir esse planejamento.

“No período do Carnaval há significativo incremento na geração de resíduos sólidos urbanos, o que torna necessária a apuração pelo MP acerca do dever de observância pela administração pública da adequada gestão desses resíduos e, também, do dever constitucional de proteção do meio ambiente”, declarou a promotora de Justiça responsável pela diligência, Letícia Baird.

Contemplando resíduos originários de sanitários químicos, bem como às águas servidas e dejetos humanos oriundos dos trios elétricos, essa investigação em Salvador constatou problemas comuns em muitas partes do país. Primeiramente, não havia lixeiras em muitos trechos dos circuitos da festa. Além disso, a espuma resultante da lavagem dos banheiros continuava nas ruas mesmo após a limpeza, em contato com a população e com o material que seria comercializado pelos ambulantes.

Neste ano, o pré-carnaval de São Paulo sofreu do mesmo problema em relação à ausência de lixeiras, porém utilizou de equipes de catadores e garis para contorná-lo. Segundo reportagem do G1, não havia uma quantidade suficiente para o público dos grandes blocos, mas havia equipes da Prefeitura para recolher a maior parte do lixo. Além das 455,38 toneladas de lixo coletadas em dois dias de folia, foi possível recolher 9,14 toneladas de materiais recicláveis.

O carnaval de 2018 em Salvador também aposta no apoio ao trabalho dos catadores de resíduos sólidos, lançando a Operação Carolina de Jesus, investimento de R$ 820 mil que beneficiará 1,5 mil catadores. Além de receberem kits de proteção individual (botas, luvas e protetor auricular) e fardamento (calça, camisa e boné), a prefeitura disponibilizará água e refeições diárias aos trabalhadores.

A medida é extremamente interessante, já que potencializa os serviços de coleta e também oferece melhores condições de trabalho aos catadores – beneficiando todas as partes.

No pré da semana passada, em Vitória, no Espírito Santo, os catadores da região do Sambão do Povo disseram arrecadar o equivalente a cinco meses de trabalho regular. Isso só foi possível graças a uma articulação da Associação Nacional de Catadores, que procurou na universidade a professora Maria Cláudia Lima Couto para auxiliar no projeto e se associou à empresa organizadora do carnaval de Vitória.

“A Associação Nacional de Catadores nos procurou no final do ano, falando da vontade de estar presente no carnaval de Vitória. O que a gente fez foi elaborar o projeto técnico, mostrando como seriam as atividades aqui, quais seriam os procedimentos de segurança. Foi uma coleta seletiva durante o carnaval de Vitória”, declarou ao G1.

A professora destaca que, além do ganho financeiro da associação, a medida também beneficia a cidade: “Como o acesso à área é restrito, todo esse material, agora de manhã, estaria sendo varrido e colocado nos caminhões que vão para os aterros sanitários”.

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Comments
  • Fábio
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    Muito interessante o artigo. Aborda uma questão que precisa de atenção por parte do poder público, dos empresários que fazem o carnaval e também dos foliões. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 fiz uma abordagem à Belotur, órgão que coordena os eventos da cidade, propondo soluções ambientais para o carnaval. Cheguei a apresentar um projeto que abrangia todo o evento com foco máximo na gestão dos resíduos. Consegui realizar apenas a sensibilização ambiental no pré e no carnaval de 2016. Minha empresa tem expertise em gestão ambiental para eventos com base na ISO20121. Nosso método se adapta a qualquer tipo e porte de evento. Recentemente também publiquei um artigo sobre o tema. Segue link para apreciação: https://www.suaarvore.com/single-post/2018/02/27/O-Carnaval-de-BH-sob-a-%25C3%25B3tica-da-Sustentabilidade

    Estou preparando um segundo texto muito mais detalhado e com referências numéricas para apontar o tamanho dos impactos. O assunto é novo, mas extremamente importante. Parabéns pelo material!

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