Relacionamento com comunidades ao redor de barragens

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Hindalco em Mariana: o desafio de operar em uma área “traumatizada”

O rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana (MG), provocou um acidente ambiental que extrapolou em muito as dimensões regionais. O fato provocou uma revisão e o recrudescimento do rigor das normas de controle e segurança de barragens, além de uma onda de temor nas comunidades localizadas em áreas próximas a barramentos.

“Após o rompimento da Barragem de Fundão, a equipe da Ferreira Rocha fez alguns levantamentos na área do entorno de barragens e, em todos, a insegurança quanto ao risco de rompimento era um tema prioritário a ser tratado nas comunidades no âmbito de sua convivência efetiva ou ainda planejada com os reservatórios,” confirma a especialista em Comunicação Social, Isadora Camargos.

Segundo Camargos, enquanto o rompimento em si de um barramento relaciona-se claramente a um risco, a sensação de insegurança gerada junto a populações a jusante desta estrutura deve ser interpretada como um impacto ambiental percebido.

É necessário, portanto, promover uma reflexão sobre como atuar para atenuar o medo das comunidades quanto ao risco de rompimento de barragens. Assim ele não se tornaria um dificultador na obtenção da “Licença Social” – efetiva anuência da população à implantação e à operação dos reservatórios.

“A princípio, esse temor passou a se fazer, pelo menos em alguns casos, imune a explicações do empreendedor quanto, por exemplo, ao fato de barragens componentes de empreendimentos hidrelétricos serem construídas segundo padrões de segurança e de monitoramento consagrados pela prática internacional. Isto porque as pessoas acompanharam pelas notícias o rompimento – e, em especial, suas consequências socioambientais – de uma estrutura considerada segura a princípio pelo empreendedor e pelo órgão fiscalizador, e a significativa contestação pública das formas de controle e da credibilidade dessas instituições,” esclarece a especialista.

Esse “medo” e a “sensação de insegurança” se tornam então um impacto ambiental real, inclusive podendo ser medidos por meio de metodologias de diálogo com as comunidades afetadas. Dessa forma, sua mitigação vai se relacionar à (re)construção de uma sensação de credibilidade e segurança. Esta sensação é resultado de ações efetivas, com atitudes concretas, com informações veiculadas de forma transparente e com a participação real da população no processo de monitoramento das estruturas.

Foi pensando nisso que a Hindalco, responsável pela Barragem do Marzagão, procurou a Ferreira Rocha. A Barragem do Marzagão foi instalada há mais de 40 anos pela antiga Alcan Alumínio do Brasil para reservação de rejeitos oriundos do processamento da bauxita na unidade industrial de Saramenha, Ouro Preto. Hoje, opera pela Hindalco. A estrutura guarda, em sua área de influência para análise de rompimento, não só parte da cidade supracitada, como também Mariana.

“Em 2016, foi refeita a estratégia de comunicação atrelada à segurança da barragem, envolvendo diversas partes interessadas, que passou a ser então posta em prática pelo empreendedor, com acompanhamento, sob as óticas técnica e estratégica, da Ferreira Rocha,” explica Camargos.

Foram elaborados o Plano Estratégico de Comunicação (PEC), atrelado ao Plano de Ação de Emergência (PAE). Após definição dos públicos de interesse, trabalhou-se em duas frentes de trabalho.

Na primeira, denominadaDue Diligence de Engenharia e Socioambiental”, foi feita uma análise técnica dos documentos da barragem que mostram os resultados de monitoramento, as intervenções e o processo de licenciamento ambiental e, ainda, o contexto e o histórico socioambiental do empreendimento. A partir dessa avaliação, foram definidos temas prioritários a serem tratados junto a cada público e, frente a estes, oportunidades, lacunas de conhecimento e fragilidades.
Na segunda frente de trabalho, a chamadaDue Diligence de Relacionamento com Stakeholders”, foram feitas entrevistas em profundidade e grupos focais com diversas partes interessadas, para identificar o nível de informação sobre a barragem. Além disso, um estudo do posicionamento desses agentes do ambiente online.

O resultado mostrou, em linhas gerais, que o fato de a Barragem do Marzagão estar instalada há quatro décadas era um fator tranquilizador no contexto do medo de seu rompimento. Outro motivo tranquilizador foi o início das reuniões e visitas à barragem poucas semanas após o acidente em Mariana, procedimento adotado de pronto pela Hindalco. Mesmo assim, foi detectado ter havido um aumento da desconfiança e da sensação de insegurança após novembro de 2015.

Com base no resultado do diagnóstico, foram tomadas algumas decisões de gestão dentro da empresa, como, por exemplo, a formalização e divulgação do time responsável pela segurança da barragem. Paralelamente, a avaliação integrada desses resultados levou ao detalhamento do PEC, com públicos, indicação de pessoas, ações, mensagens-chave, ferramentas de comunicação e estratégias de abordagem.

“O medo, muitas vezes, tem como origem a falta de informação e de compreensão, e, portanto, evitar a exposição não se mostra o caminho recomendado para adoção pelo empreendedor,” conclui Isadora. Por isso, é fundamental a elaboração e implantação de um processo efetivo e eficaz de comunicação.

Uma ferramenta para chegar lá é, como fez a Hindalco, partir de uma “due diligence” integrada de engenharia, socioambiental e de relacionamento com stakeholders. Assim detecta-se o status real de compliance de seu barramento – e, por vezes, do empreendimento no qual se insere – com os níveis admissíveis e procedimentos de segurança normatizados, de informação das comunidades a jusante e de outros stakeholders relevantes, entre outros.

Conhecendo-se, assim, as fragilidades, lacunas de conhecimento e fortalezas do barramento em questão, será possível avaliar os graus de risco e oportunidade a elas associados. E assim hierarquiza-los, planejando, em termos de cronograma e orçamento, o seu atendimento e/ou a sua forma de abordagem junto aos diversos públicos-alvo.

“Em outras palavras, elaborar um PEC para um barramento no tocante a sua segurança implica em transformar uma obrigação já regulamentada pela PNSB em uma oportunidade de conhecer e aprimorar o real grau de compatibilidade da estrutura com aspectos de engenharia e socioambientais, bem como de transparência do empreendedor e do empreendimento com seus stakeholders.”

 

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