Nova discussão sobre o processamento de imagens na assessoria ambiental

 Em Estudos e Projetos, Negócios e Meio Ambiente

Especialista da Ferreira Rocha esclarece o real valor da fusão de bandas na construção de mapas temáticos com imagens de satélite

Nem sempre um processo indicado na teoria faz sentido na prática. Foi o que constatou nosso Especialista em Geoprocessamento, Marcos Rodrigues, que não apenas trabalha com o processamento digital de imagens, mas o pesquisa no Instituto de Geociências da UFMG.

O processamento digital de imagens oferece uma gama de procedimentos que visam melhorar diversos aspectos das imagens de satélite, sendo um deles a resolução espacial. Muito utilizadas em estudos do uso e ocupação do solo, as imagens de satélite servem como matéria-prima para geração de diversos produtos, possibilitando ainda a realização de vários tipos de análise. Esse é um dos temas tratados por Rodrigues, em artigo de coautoria com Marcos Antônio Timbó Elmiro, professor do Departamento de Cartografia do IGC/UFMG.

“O Sensoriamento Remoto, aliado ao Processamento Digital de Imagens orbitais (PDI), vêm se mostrando como um dos principais e mais utilizados recursos para se obter informações sobre os alvos na superfície terrestre, sem ser necessário o contato físico com os mesmos,” definem Rodrigues e Elmiro.

Algumas aplicações para essas técnicas são os mapas que compõem documentos como o Estudo de Impacto Ambiental e respectivo relatório (EIA-RIMA), o Plano de Controle Ambiental (PCA) e o Relatório de Controle Ambiental (RCA). Outro exemplo da utilização de imagens de satélite está no Cadastro Ambiental Rural (CAR), que foi instituído pelo Ministério do Meio Ambiente para o cumprimento do art. 29 da Lei 12.651, de maio de 2012 – Novo Código Florestal. Embora existam outras aplicações para as imagens de satélite, a classificação para geração de mapas temáticos da cobertura do solo é uma das mais utilizadas.

Apesar do uso de imagens de sensoriamento remoto possibilitarem a elaboração desses materiais, o acesso a imagens de alta resolução espacial é dificultado. Isso se deve ao seu elevado custo de aquisição, uma vez que possibilitam uma observação muito acurada da superfície terrestre. Aqui chegamos, então, à técnica da fusão de bandas. Ela vem sendo corriqueiramente utilizada dentro do processamento digital de imagens como forma de melhorar a resolução espacial das imagens de satélites de média resolução. No entanto, ainda existem poucos estudos a respeito da sua real efetividade para a classificação de imagens e melhoria de produtos como os mapas da cobertura da terra.

“Durante o processo de aquisição de imagens, as bandas multiespectrais são geradas com resolução espacial inferior à resolução da banda pancromátrica. A fusão de imagens consiste, então, na integração das bandas multiespectrais de uma imagem de satélite, com a banda pancromática, dando origem a uma nova imagem que reúne a melhor resolução espacial da banda pancromática, e a melhor resolução espectral das demais bandas, gerando um produto com melhor qualidade visual.”

Para Rodrigues, que utiliza imagens de satélite com certa regularidade na Ferreira Rocha, a geração de mapas de uso e ocupação do solo se tornou prática comum. Com a oportunidade de testar e aprimorar sua eficácia através do estudo acadêmico, decidiu pesquisar a fusão de imagens. “Esse era um procedimento que eu sempre adotava no decorrer dos trabalhos com imagens de satélite. Porém, com o passar do tempo, comecei a questionar a sua real efetividade para o produto final, e se este procedimento poderia ser dispensado, a fim de agilizar o tempo de processamento. E, surpreendentemente, foi o que constatei na minha pesquisa,” relata Marcos.

Para a classificação da imagem, e geração do mapa de uso do solo, o fusionamento não apresentou resultados relevantes. Seria mais vantajoso, no caso, procurar e investir em uma matéria prima melhor (imagem com resolução mais alta), que fosse mais adequada para a necessidade do profissional. “A fusão de bandas melhora, de fato, a resolução espacial das imagens, proporcionando imagens mais nítidas ao olhar. Todavia, não faz tanta diferença para o processo de classificação, pois não aumenta a qualidade do produto final,” explica Rodrigues.

Ou seja, apesar de a fusão de bandas melhorar a visualização da imagem, sua aplicação nesse tipo de mapa não se mostrou efetiva. Existem, no entanto, outras aplicações dessa técnica, como a conferência de dados de campo, uma análise detalhada do que está na superfície ou delimitação manual de algum elemento da paisagem. Até mesmo para ilustrar, como a fusão permite que vejamos as imagens com mais clareza, ela pode ser útil.

Nessa área, avalia Marcos Rodrigues, os avanços nas técnicas e softwares de processamento digital devem acompanhar aqueles feitos na própria captura de imagens de satélite. Cada vez mais, nos deparamos com imagens de maior resolução e acurácia. É necessário, então, que se tenha um maior acesso a esse material, que até o momento é produzido de forma tão cara e exclusiva.

Existem, no entanto, iniciativas para populariza-lo. O Programa Landsat, por exemplo, é uma plataforma norte-americana de satélites de média resolução, que hoje é disponibilizada gratuitamente para pesquisa. Enquanto isso, empresas privadas também investem no lançamento de satélites e foguetes, o que pode um dia baratear o custo de produção dessas imagens. “Ainda não há geração de imagens por empresas privadas, mas é uma expectativa dos profissionais da área, uma vez que poderia nos oferecer muitas possibilidades,” conjectura Rodrigues.

 

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