UHE Baixo Iguaçu: Estratégias de gestão socioambiental integrada em um território de elevada complexidade
Usina Hidrelétrica de Baixo IguaçuIguaçu
Em abril de 2017, postei em nosso blog uma matéria sobre o início de nossos trabalhos de assessoria à gestão socioambiental na UHE Baixo Iguaçu, com potência instalada de 350,2 MW, de concessão do Consórcio Empreendedor Baixo Iguaçu – CEBI. O eixo do empreendimento dista apenas 500 m a montante do limite do Parque Nacional do Iguaçu (PNI). Este fato, conjugado a um número significativo de pequenas propriedades afetadas, eleva a complexidade do território.
Hoje, retomo o tema com algumas reflexões sobre a nossa atuação junto à equipe do empreendedor. Em especial, destaco nesse trabalho a gestão do processo de engajamento de stakeholders como o diferencial da atuação da Ferreira Rocha Assessoria e Serviços Ambientais junto a esse cliente.
Iniciamos nossos trabalhos com a meta, estabelecida pelo CEBI, de consolidarmos, em 20 (vinte) dias, o Relatório para Solicitação da Renovação da Licença de Instalação (RLI) junto ao Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Vencer com sucesso este desafio nos obrigou a uma agilidade no conhecimento da vasta documentação disponível e a uma robusta estruturação metodológica do processo para sua análise.
Identificamos as materialidades do empreendimento e de sua interação com o território. A partir delas, compusemos uma versão preliminar da Matriz Estratégica de Fragilidades, Oportunidades e Lacunas, que triangulamos com uma primeira avaliação das “vozes do campo”: os diferentes atores e suas relações de colaboração e conflito, em especial – mas não só – com relação à UHE Baixo Iguaçu.
Entregue o Relatório para RLI, estruturamos ferramentas gerenciais customizadas para bem capturar e acompanhar, durante a etapa de implantação, os fatores de risco negativos e positivos, e sua probabilidade de manifestação, associados a 32 (trinta e dois) Programas e Projetos, 63 (sessenta e três) condicionantes apostas pelo IAP e pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), Termos de Compromisso e outros acordos existentes ou que poderiam vir a ser firmados.
Aprendemos muito com nossas experiências com projetos de setores, portes e níveis de sensibilidade diversos frente à sua região de inserção, desde as UHEs Belo Monte e Sinop, o Complexo Minerário Minas-Rio e os trabalhos iniciais para o Porto Sul, em Ilhéus, até PCHs e empreendimentos imobiliários. Elas nos mostraram que, em especial para empreendimentos em territórios complexos, a customização em lugar da utilização de sistemas de gestão socioambiental “de gaveta” é estrategicamente fundamental.
Só com ferramentas exclusivas, alimentadas com a devida visão estratégica da equipe de gestão, se consegue a flexibilização e a agilidade necessárias para ajustar o sistema ao longo do processo. Isso é fundamental para aprimorar o gerenciamento e melhor subsidiar o reporte e a tomada de decisão desde os níveis de coordenação e gerência até a Alta Administração do cliente.
O conhecimento prévio dos stakeholders e de suas relações nos credenciou para ampliar nosso escopo de atuação para abarcar ações de Educação Ambiental. E isso tem muito beneficiado o processo para a UHE Baixo Iguaçu chegar à sua LO, prevista para dezembro/18, com redução de conflitos sociais. Estamos constantemente próximos de partes interessadas significativas, captando de forma dinâmica suas percepções e imediatamente as avaliando vis a vis as informações técnicas que dispomos. Assim, agilizamos respostas para os stakeholders quando as mesmas se coadunam com os escopos das ações socioambientais que já conhecemos. Se não, contribuímos para acelerar o processo de conhecimento, pelo CEBI, das ansiedades e demandas, buscando agilizar tomadas de decisão que revertam em posicionamentos assertivos junto aos atores.
Outra agregação relevante ao nosso portfolio de ações de gestão social para a UHE Baixo Iguaçu foi passarmos a nos responsabilizar pela execução das campanhas de monitoramento socioeconômico nos cinco municípios afetados. Ratificando nossas vivências no tema afetas às UHEs Belo Monte e Sinop, e ao Complexo Minerário Minas-Rio, confirmamos que o monitoramento socioeconômico é profundamente estratégico para o empreendedor pois:
Esse conjunto de ações integradas efetivamente vêm transformando a gestão socioambiental da UHE Baixo Iguaçu em muito mais do que um simples check-list de procedimentos e de consolidação e entregas de documentos, como infelizmente ainda ocorre com frequência em diferentes projetos. Transcendem uma visão mecânica do gerenciamento para um olhar constantemente estratégico e de orientação ao empreendedor, beneficiando comunidades, poderes públicos municipais e instituições envolvidas na materialização do empreendimento com o ir e vir de percepções, de respostas, de negociações e acordos delas decorrentes
Em suma, no período em que vimos atuando junto à UHE Baixo Iguaçu é nítida a evolução do nível de aceitação que os stakeholders afetados apresentam com relação ao empreendimento. Com a melhoria da qualidade do diálogo e o incremento da confiança também motivado por ações do empreendedor frente a esses stakeholders, aumenta-se o nível de identificação do território com o projeto. E nos sentimos orgulhosos e recompensados de estarmos contribuindo com esse novo contexto por meio de uma gestão socioambiental integrada e atuante junto ao seu grande cliente, que é o território onde se insere a UHE Baixo Iguaçu, com seus entes multifacetados.
Delfim Rocha
